31 agosto 2008

Sumô e Saquê

Para muitos esportes no mundo a dieta alimentar é milimetricamente calculado por um batalhão de nutricionaistas. Todos os nutrientes são rigorosamentes controlados, onde o praticante deve seguir à risca toda comida que é permitida consumir, obedecendo horário e quantidade. Isso quando não está para enfrentrar uma grande competição.
Agora quando falamos em Sumô, a coisa é um pouco diferente. Uma das artes marciais famosas no mundo e um orgulho para os japoneses, a dieta alimentar consiste em ganhar peso. O Sumô como toda arte marcial, tem níveis que sãoa atingidas ao longo da carreira. Porém, como no karatê ou judô, uma vez que você conqusita a faixa preta, você nunca mais perde. No Sumô, você pode cair se não empenhar.

Diferente das outras artes, onde você sai de sua casa e frequente a academia, os sumocas no Japão, se "alistam" nos Heyas (Academias de Sumô), onde você passa a viver com todos os praticantes. Uma hierarquia pesada que deve ser respeitada. Os novatos, além de acordar cedo e limpar toda a academia, deve preparar o Dohyôu (quadra redonda para o treino ou combates), preparar o chá para o técnico, preparar o almoço, come por último, quando sobra alguma coisa, lava, passa, varre, um inferno. Os treinos também são concorridos. Cada vez que termina uma luta que dura em média segundos, vários novatos se acotovelam para poder lutar com um graduado.

Para aguentar toda essa rotina e ainda ganhar peso, deve também comer. Cada academia tem um cardápio diferente, mas os ingredientes são semelhantes. No almoço, cozidos de carne, peixe e legumes, tofu, o chamado Chanco Nabê. Eu era um anoréxico perto deles, pois pareciam não mastigar. Mas que eles devoram aquilo tudo, eles devoram. Enquanto na nossa rotina, passamos no supermercado e compramos em gramas, nas academias de Sumô, são em quilos.

No jantar, fica a livre escolha dos praticantes, que saem para beber saquê e cerveja, como para aqueles que não bebem (a minoria), podem passar em lanchonetes e lojas de conveniências e comprar bentôs e guloseimas. Na verdade essa última opção, quando apareceram as convenientes lojas para deixar toda a população preguiçosa, fez com que mudasse a dieta dos praticantes de Sumô. Mesmo com a quantidade farta de comida, existe uma dieta nutricional a ser cumprida. Mas muitos praticantes, já começam a escolher o que gosta e o que não gosta. Ou se sente fome a qualquer hora do dia, batem ponto em lojas de conveniência mais próxima de onde estão. Com isso, crese o número de sumocas com diabete e apesar da pratica da arte, vem o sedentarismo. Muitos também já estão deixando de tomar saquê.

O Saquê e o Sumô, são companheiros das antigas. Tanto que existem uma porção de rótulos que trocam figurinhas com a arte marcial. Uma mais famosa no mundo é o OZEKI. Ozeki era o posto mais alto antes da criação do Yokozuna. Os amercicanos traduziram como Champion e Grand Champion, respectivamente. Já comentamos na Adega de Sake (http://www.adegadesake.com/Para%20Mulheres5.htm) que a bebida é um verdadeiro hidratante de pele. Pois é além das mãos de produtores de saquê ficarem sedosos e macios, a pela do praticante de Sumô também é lisinho e branco.

Agora, fica ao lado desse caras. Você fica satisfeito só de olhar eles comendo. Saquê, então tomam como água.




30 agosto 2008

Com ou Sem Sal?



Antes de mais nada, a Adega de Sake deixa bem claro, que o saquê deve ser apreciado da melhor forma que lhe agradar, não existindo o certo e o errado.
De todos os e-mails que recebo, vem em segundo lugar, a seguinte pergunta: Devo tomar com sal ou não? Não se sabe ao certo desde de quando começou a se tomar saquê com sal no Japão. Mas especialistas, fabricantes e apaixonados por saquê, dizem que tomava-se desta forma em épocas escassas de comida. Como as técnicas de preparo do saquê não era tão avançado como hoje, onde o saquê era mais pesado, pouco refinamento e polimento dos grãos, e bem mais frutado e doce, acabava que as pessoas deixassem de tomar após a segunda dose. Por isso, o sal ou missô (pasta de soja) quebravam o sabor incômodo do saquê. Uma outra tese é que o sal realçava o real sabor da bebida, deixando o malte de arroz mais vivo, penetrante e presente. Tanto é que muitos japoneses das antigas, colocam sal na melancia, morango e outras frutas. No Japão em algumas regiões com a província de Gunma, tomam saquê com sal. Porém a bebida é doce e denso. Ainda mais no inverno, aquece o saquê e precisa da ajuda do sal.
O velho MASU, a caixinha de madeira é bastante usada em festividades. Só que festividades onde reúnem bastante gente onde é preciso do barril de saquê. O chamado TARU, antigamente acomodava o arroz branco, hoje é revestido de cerâmica na sua parte interior e é colocado o saquê. Normalmente o seu conteúdo é de 70 litros. Junto vem o MASU, que era um item de medição. Para entender melhor, imaginem tomando o saquê com uma caneca medidora de água , leite, açúcar ou farinha. Um Masu, equivale à 180ml. Portanto quando as pessoas iam ao armazém de grãos, era cobrado por quantidade de Masu de arroz.
Hoje, no Japão o Masu está em desuso em restaurantes e nas residências. Mas mesmo assim, tentam usar de alguma forma para manter a tradição. Portanto várias casas, usam como uma espécie de pires, por uma questão prática. Imaginem a casa lotada, várias doses de saquês precisando ser levadas às mesas, e devagar não dá. O Masu, evita que o copo tombe, não derrame na bandeja, e não desperdiça o saquê.
Aqui no Brasil e nos Estados Unidos, o uso do Masu como copo é muito mais freqüente que no Japão. Agora porque está sendo banido na terra do sol nascente? Primeiro que o aroma do pinho Yoshino é muito agradável na hora de tomar saquê, porém quanto mais o líquido fica em contato, mais se altera o sabor do saquê. Desta forma, os fabricantes de saquês, mudaram os seus tanques de maturação, para uma espécie de aço aveludado que não deixa passar o ferro para o líquido. E também foi criado o masu feito de melamina, aquele que parece de plástico vermelho e preto. Um outro motivo é a questão de higiene. A madeira absorve o líquido, inclusive a sua saliva. Por isso, após servir um cliente, precisava se lavar e deixar secar para que pudesse servir um outro cliente. Isso fazia com que os restaurante precisassem um estoque desses copos de madeiras.
Deve estar perguntando. E o saquê que cai do copo para dentro do Masu. Devo tomar? Claro, mas sempre despejando de volta ao copo.
Bom, é isso. Não posso dizer que está errado ou certo.

29 agosto 2008

Arte ou Arte de criar?


Outro dia fiquei folheando um livro japonês de 341 páginas, só de entradas que acompanham saquês. O livro era separado por ingredientes, como entradas feitas de nabo, pepino, espinafre, rabanetes, enfim uma porção de coisas uma mais gostosa que a outra. Isso sem falar no capricho da escolha dos recipientes, a montagem e a decoração.
Aí eu fiquei pensando. Se reparar em cada foto das comidas, o custo do prato, não deve passar os R$ 2,00. Em muitos restaurantes japoneses aqui no Brasil, "montam" os seus pratos colocando de tudo e do melhor. Iguarias que uma mastigada custa por volta de R$ 50,00. Muito bem produzido, cores em perfeito equilíbrio, uma verdadeira obra de arte. Pois é, uma obra de arte nós desejamos deixar intacta. Ou seja, o Chef de cozinha, estuda várias tendências de várias regiões do mundo, arquiteta o prato, manda importar ou fazer um prato com assinatura de um profissional de renome internacional, para que em questão de segundos desmanchem e acabem com todo o trabalho. Isso tudo em nome da Arte. A arte da gastronomia.
Tudo bem que de vez em nunca, temos o desejo de comer uma obra de arte e torrar o salário de uma vez só. Mas se for perceber que comer é um ato vital e necessário todos os dias, vamos ter que rever o conceito arte. Agora vem a pergunta. Então aonde devemos empregar a arte sem ter que globalizar os ingredientes e além de deixar o prato saboroso e acessível?
Fui à dois restaurantes aqui em São Paulo onde pude ver um grande contraste. O primeiro, fui recebido na porta por uma estupenda hostess que me conduziu ao balcão. Do nada um garçom já estava posicionado pronto para me atender com o seu PDA de pedidos. Antes que eu pudesse pedir alguma coisa, o rapaz muito educado começou a me oferecer um ótimo vinho e a sugestão do Chef. Com um domínio no menu e informações fartas, foi orientando o meu pedido. Talvez achasse que desconhecia da culinária, foi me falando prato por prato. Sem constranger o garçom, pedi o menu degustação. A partir daí, o garçon se retirou e o Chef me atendeu. Cada prato que ele me servia, explicava o conceito. A Arte que envolvia a comida e me induzia a sentir o que ele sentia. No total de 5 pratos, e uma dose de saquê que valia 2 garrafas, saí dali direto para o McDonald's, pois ainda estava com fome.
Um outro dia, fui conhecer uma casa totalmente diferente da primeira. Não fui atendido na porta, mas um caloroso e feminino "irasshaimasse" veio do balcão. A garçonete me ofereceu um lugar no balcão. Me acomodei e ela me serviu um copo d'água. Pedi o menu degustação e prontamente se retirou. Fiquei apreciando o saquê que eu pedi, quando os pratos começaram a chegar. Em porções generosas, bonitas mas acima de tudo muito saboroso. Mas havia ainda alguma coisa que faltava classificar, quando o Chef observou uma porção de pontos de interrogações na minha cabeça e me diz: " São ingredientes da estação, todos daqui do Brasil, inclusive os peixes". Pois é, isso eu já havia reparado. Mas não era isso. De repente o Chef: "Tomamos a liberdade de servir um menu que inventamos na hora. Reparei que estava um pouco cansado e abatido. Por isso, comecei com uma entrada de sopa, depois uma conserva salgada para abrir as papilas gustativas para preparar o paladar, uma porção de sashimi de peixe branco, uma carne e um filé de unagui para repor energias, um ossuimono (sopa feito de ichibandashi) para limpar a boca e um sorvete de azuki para acalmar os ânimos.
Este Chef, na verdade "cuidou de mim" com um carinho de mãe me alimentando. Além do atendimento além do esperado, usar ingredientes locais e transformar em um prato bonito e gostoso, isso sim é uma arte bem dosada. Além do preço custar 1/4 do primeiro, ganhei uma dose de saquê de cortesia.
Aí eu pergunto, que tipo de arte você degusta?

Você sabe o que come?


Muitos que vão jantar em restaurante japonês, 80% não fazem idéia do que estão comendo. Muitos reclamam do preço que não compatível com o "volume" e pelos ingredientes. Daí afirmo que muitos não sabem o que estão comendo, e dá vontade falar "porque não vão jantar em outro lugar?" Você não reclama no aeroporto que a passagem da primeira classe é incompatível com o preço. Só tem uma poltrona como todas as classes, todos chegam no mesmo horário, e o avião é o mesmo. Claro que o tratamento é diferenciado, salas VIPs, brindes e prioridade no embarque e nas bagagens. Agora isso não acontece nos restaurantes.
Uma vez jantei em um dos restaurantes mais sofisticados de SP e lá sentei ao lado de um casal que reclamava do preço. Que não era justo, que era roubo, que era uma falta de respeito com o consumidor. O Chef e o maitre, educadamente explicavam tudo. Mas nada faziam com que o casal acalmassem.
Bom, além de me encher o saco com aquela gritaria, eu me prontifiquei e puxei a minha cadeira para perto deles. Eles estavam reclamando que o prato (2 patas de centolla ao molho momiji oroshi, ovas de salmão, brotos de nabo e kakuni de torô) não estava compatível com o preço de R$ 45,00. Perguntei à eles se sabiam de onde vinham as patas de centolla. O rapaz disse que vinha do Chile. Mas na verdade a centolla, se chama Seiko Kani, que vem da ilha de Hokkaido no Japão, e é muito difícil de comprar lá, quanto mais importar para cá. Tripulantes arriscam a vida para pescar essa iguaria. As ovas de King Salmon, vem do Alaska. Brotos de Nabo é produzida por uma senhora que só ela sabe fazer, com talinhos uniforme e folhas bem vivas. Não se consegue obter em grande escala, se não mata a velha. Pedaços generosos de Torô (parte mais nobre do Atum Gordo) já dispensa explicações. Fora custo e venda, o prato significava muita coisa. Harmonização, a arte do chef, a beleza e o requinte, e um prato tradicional na parte norte do Japão, onde se aprecia em grandes comemorações.
Resumindo, o casal não fazia idéia do que estavam comendo. Até fiz o cálculo para ver se era compatível ou não (Isso que dá saber o preço de custo de tudo). Pedi para que depois dessa explicação, apreciasse o prato, e que mesmo assim não gostassem que eu pagaria o prato. Cada pedaço que seguia para a boca do casal, abriam um sorriso. Pedi para trazer duas doses de saquê Junmai e Seco. Provaram e adoraram. Acabaram pedindo outra porção, e mais doses de saquê. Salvei a noite do casal, do Chef e do Maitre.
As pessoas tem que entender que não é só um prato que está a sua frente. Existe todo um cuidado, pesquisa, história, tradição, conhecimentos, que não tem preço. E como assistir um filme. Efeitos legais, a protagonista gostosa, bons atores, pancadaria e sexo. Mas muitos não percebem a mensagem o que os diretores e roteiristas querem passar. Por isso aqui vai a minha dica. Pesquisem o restaurante se é compatível com o seu bolso, assim como faz na hora de escolher uma companhia aérea. Veja o que eles oferecem e vejam se agradam. Mas tem muitas coisas que a gente não enxerga e que não tem preço. E sabem de uma coisa, as companhias aéreas tem tratamentos diferenciados para cada classe de passageiros. No restaurante, todos são tratados da mesma forma.
E você, sabe o que está comendo?

Umami


Umami é um substantivo que deriva de "Umai". O termo se refere à ótimo, gostoso, bom ou perfeito, bastante usado na gastronomia. Ou quando alguém diz uma coisa engraçada, no momento certo, no lugar certo e com as pessoas certas.
Uma vez, perguntei para um Itamae (Chef de cozinha tradicional), o que é Umami. Ele não soube traduzir, mas contou uma história que passara na infância. Quando tinha 9 anos, ele não tinha o que comer, como muitas crianças na época, devido à consequência da 2º Guerra Mundial. E num momento de desespero, "assaltava" uma plantação de batata-doce que ficava ao lado da escola. E ainda na tentativa de amenizar o próprio crime, escolhia os menores e os mais feios. Foi aí, que um dia o dono da lavoura o pegou em flagrante e deu uma bela surra, apanhando com uma pá de ferro. "Muita gente está com fome. Mas isso não lhe dá direito para roubar as coisas dos outros". Virou-se de costas, andou cerca de três passos e disse "Quando tiver fome, peça. Não roube!....agora venha que foi te dar alguma coisa." Mesmo chorando de vergonha, mas a fome falando mais alto, o chef foi para dentro da casa do agricultor. O velho, arregaçou as mangas do kimono e fez dois Oniguiris. Num piscar de olhos, o pobre garoto engoliu à seco que engasgou. Sabendo disso, o velho já estava um copo com chá gelado.
O Chef, enxugando o rosto, disse que aqueles dois Oniguiris, era o Umami dele. E por isso resolveu abrir um restaurante. Pois qualquer coisa que acontecesse não passaria fome. Emocionado, ele estendeu a mão na estante puxando uma garrafa de saquê e me serviu dizendo que era por conta dele. Recusei abrindo um sorriso, pois para mim, não completaria o meu Umami. Ouvir uma boa história, uma lição de vida, apreciar um bom saquê, e não pagar, não estaria realizando o conjunto.
Portanto, na minha concepção, Umami é o conjunto de situações e alimentos. Não adianta consumir um excelente prato, num restaurante caro, discutindo por exemplo, um assunto desagradável de família. Mais vale uma roda de amigos (amigo mesmo), tomando cerveja e beliscando petiscos, que estará concretizando o Umami.
Então, qual é o seu?

Moderno ou Básico?

Ando ultimamente, observando os pequenos detalhes em minha volta. Imaginem uma companhia aérea que oferece check-in pela internet, toneladas de opções de conexão, aviões ultra modernos, assentos que viram cama. Só que quando você chega no aeroporto, a sua reserva não está confirmada, etiqueta a sua bagagem para outro destino e perde o vôo, porque não foi anunciado.
Fui convidado para um jantar, por um casal de amigos em um sofisticado restaurante em São Paulo. Chegando, a casa estava lotada. Uma hostess muito atraente, veio nos receber na porta, e verificou a reserva. Porém, me pareceu não conferir, pois ela olhava em volta, procurando uma mesa com os olhos. Para a nossa sorte, um grupo de 5 pessoas estavam de saída, e ela educadamente pediu para que nós aguardássemos até que a mesa estivesse pronta. Enquanto isso, ficamos conversando e admirando a bela casa. Vidros em todas as partes, faziam com que restaurante parecesse amplo e mostrava os belos jardins japoneses. Uma enorme quantidade de lâmpadas que dava medo de olhar a conta de luz. Uma moderna e fabulosa decoração interna.
Depois de pronta a mesa, nos acomodamos e comecei a observar os detalhes. Ao invés de ouvir música ambiente, parecia que estávamos em um show. A garçonete estava equipada com um palm top para atender os nossos pedidos. Porém nem ela escutava o que pedíamos, pois com o som alto, as pessoas também aumentam o volume da voz. A carta de bebidas, na parte dos saquês fermentados e destilados, uma beleza. Dizia o nome da adega, teor alcoólico, acidez, os preços da dose e da garrafa, completo. Só que sem a marca. Muitos não ligam a marca com a adega.
A comida chegou. Sobre uma belíssima travessa de cerâmica japonesa, e um pargo inteiro e meio curvado exalava um aroma esplêndido, com uma arranjo de flores e várias folhas de shisso e um cumbuquinha de molho. Excelente se fosse o que eu havia solicitado, pois pedi um combinado de sashimis. Quando veio a dose de saquê, estranhei o seu gosto. Chamei a mesma garçonete, para verificar a marca. Ela procurava no seu moderno palm, a bebida que pedi. Não encontrando, ela se desculpou e diz que iria trocar. Mas trocar pelo qual, se ela nem lembra do que eu pedi? Mas tudo bem. Para não constranger ainda mais a moça na frente dos meus amigos, resolvi tomar que foi me oferecido.
A música continuou alto, tanto que resolvi ficar mudo, pois cansava a conversa. Então a minha amiga, disse para que fossemos para outro lugar. Topei na hora, e me ofereci para escolher um bom local. Bom, mais uma surpresa na hora de pagar. Mais uma vez, o pedido não condiz com o valor, e pela terceira vez, a garçonete veio até nós. Já impaciente, o meu amigo sacou o seu cartão e ia pagar o que estava apresentado. Na hora de pagar, houve um problema na linha e não debitava o valor...... aconteceram mais algumas coisas e saímos dali.
Agora na frente de uma humilde casa de esquina que era um sobrado, largamos o carro na rua, sob a vigilância do guarda do restaurante. Entramos e já logo de cara, um "Irasshaimasse" veio de trás do balcão escuro. Um senhor japonês, com sorriso no pescoço, nos indicou o lugar para sentar e logo em seguida, uma nippônica simpática veio pegar o nosso pedido. Sem nenhum bloco de notas e apenas com uma bandeja com 3 copos de chá e oshibori. Nos serviu, e fizemos o pedido. Ela foi memorizando, e virou-se para o balcão e repetiu os pratos em voz alta para o chef. Este logo captando, pediu para aguardar um instante. Perguntei a garçonete se não havia um menu de bebidas. Então ela foi falando as marcas que a casa disponibilizava, e as melhores formas de servir. Pedi um Hakutsuru gelado. O ambiente era bastante aconchegante, embora bem menos amplo que o primeiro. Mas muito confortável e as pessoas falavam baixo.
Minutos depois as nossas bebidas chegaram. O meu saquê estava bem gelado e muito agradável para receber o pratos que veio 1 minuto depois. Mais uma vez pedi um omakasse de sashimis, e veio uma quantidade generosa de torô, fatias de salmão de cor viva e bem gordurosa, linguado com casquinha de limão, akami picado com cebolinha, linguado com listras vermelhas, que pareciam adesivos. Perfeito! Os meus amigos também estavam adorando a comida e o ambiente. Mais doses de saquês chegavam, sempre com um comentário engraçado do chef. A alegria dele era tamanha, que conseguia unir todos que estavam na casa, parecendo um grupo só. Foi uma noite espetacular. E antes de pagar, o chef nos ofereceu uma porção de ochazukê, de cortesia. Diz que salva o estômago depois do saquê. Numa tigela de arroz, tiras finas de nori, com pedaços de salmão assado, gergelim branco com um pouco de wassabi. Um chá verde maravilhoso, foi derramado no monte arroz frequinho. Nossa senhora! Deu aquela acalmada na barriga, uma satisfação.
Agora eu me pergunto. O que vale mais? Uma casa super moderna, onde o luxo e a tecnologia rouba a beleza da comida, ou um ambiente sem muito requinte, mas que serve uma boa comida e um caloroso atendimento?

Exagero ou Não?

Talvez pelo fato de vivermos em um país livre (livre até demais) que assustamos quando entramos em um restaurante sofisticado. Muitos em SP comentam do famoso restaurante JUN SAKAMOTO. Famoso em em dois estilos. Pela excelente comida e pela postura do chef que diz ser arrogante. Para esta segunda razão, conversei com vários clientes que jantaram no local e todos disseram da arrogância do Chef. Mais detalhado, dizem que você deve estar vestido, no mínimo em esporte fino. Sem reserva não entra. Necessário fazer um mini-curso para jantar. Já dentro do restaurante e principalmente no disputadíssimo balcão, o Chef te fuzila com os olhos se não comer do jeito que foi instruído. Exagero? Talvez por parte dos clientes, porque ninguém é bobo de maltratar clientes, ainda mais o proprietário.
Os brasileiros tendem a aumentar os fatos quando estão insatisfeitos. Por que digo isso, não só converso com clientes, mas com outros chefs de cozinha, e ouço o contrário. "Ele é uma pessoa dócil e tranquilo. Para trabalhar, ele é metódico e ele mesmo verifica item por item, para ver se não há nada de errado", diz o Chef do Restaurante A1. Os clientes dizem "Poxa, a gente paga uma fortuna, e o cara vem com grosseria dizendo que estou comendo errado! Eu como do jeito que eu quero".Então vamos ver por um outro ângulo. Imagine você com sua esposa entrando em um restaurante francês de alto nível. Sem que alguém diga alguma coisa, você está se produzindo todo, praticamente vestindo um terno. Fará reserva para não perder viagem. Você não falaria alto na mesa. Saberá que os talheres são usados de fora para dentro. Existem 3 copos para se tomar vinho tinto, branco e água. Se você não souber como proceder os uso dos materiais e o modo de comer, ninguém chegará para dizer como deve fazer. E o pior, vão rir de você, pelas costas.
Agora eu pergunto, alguém já disse como se portar e comer em um restaurante japonês? Está escrito em algum livro, revista ou site, a postura que deve seguir em um restaurante japonês sofisticado. No máximo, como deve segurar um hashi, como sentar no tatame, como deve servir saquê, como deve tomar missoshiru e chá.Pois é. O Jun Sakamoto, pelo menos ensina o cliente. Não apenas por causa dos pratos, que dá um trabalho imenso para equilibrar os sabores, e chega um desavisado e destrói numa piscina de shoyu. Você não gostaria que pegasse um prato que preparou o dia todo e fez com todo cuidado e carinho, e terminasse com um banho de pimenta.
Acho um certo exagero por parte dos clientes, mas sei também que nós brasileiros, não gostamos de levar desaforo para casa. Um dia assistindo um canal gastronômico do Japão e vi uma reportagem de um restaurante "extremamente rigoroso". A casa só tem 20 lugares, o que é necessário fazer reserva. Trabalham apenas o chef-proprietário e sua esposa que servem os clientes.Só para se ter uma idéia, vou listar as exigências da casa:
- Não pode entrar no restaurante sem reserva.
- Se é a primeira vez, não entra. Deverá ser recomendado por algum cliente que já esteve na casa.
- Não pode usar o celular. Deve entrar com o aparelho desligado.
- Perfume não é permitido, pois prejudica o aroma dos pratos.
- Chiclete ou bala deve ser jogados fora, antes de entrar.
- Não pode conversar alto.
- Deverá tirar o casaco ou o terno, dobrar antes de entrar no restaurante, para não trazer o pó para dentro.
- Não existe molheira no balcão. Será servido junto com o prato, se necessário.
- Não pode ler jornal ou revista.- Não pode tirar foto ou filmar- Deve estar no mínimo em esporte fino. Calça jeans é permitido, desde que não esteja desbotado ou furado propositalmente.
Se houver alguma exigência não cumprida, o dono grita na frente dos outros e bota você para fora.O mais engraçado é que no início da reportagem, quando a repórter e o cinegrafista entraram, o dono deu a volta no balcão e os expulsou. Sabia que marcara a matéria, mas não estava de acordo com o combinado. A moça teve de lavar o rosto no banheiro de uma loja de conveniência ao lado para tirar o gloss e o perfume, e o cinegrafista teve de fazer a barba e encapar a câmera.E acredite, o restaurante vive bombando, com fila do lado de fora.

E aí, o Jun Sakamoto é arrogante?
PS: Para não dizer que estou defendendo ou não o Chef Jun Sakamoto, eu não o conheço pessoalmente, e nunca fui jantar ao seu restaurante.