04 outubro 2010

Produto ou Emoção?

Existem vendedores de produtos e vendedores de emoção. O primeiro, é o que pega o produto que o cliente escolhe, coloca na sacola e cobra o preço. O segundo, é o que participa da compra junto com o cliente. Pergunta se está bom, se gostou, se prefere outro, sempre pensando no bem estar do consumidor, depois o interesse da loja.

Faz tempo que pensei em escrever alguns relatos, que me emocionaram bastante e faz você pensar. “Adoro a minha profissão”. Queria dividir com vocês, 3 relatos que mexeram comigo. Nem sempre é uma história feliz, mas que faz você refletir a sua vida.

1° Relato

Toca o telefone, e uma voz doce e alegre falava do outro lado da linha. “Eu gostaria de comprar um saquê, para um casamento. Na verdade é o meu casamento e vou fazer uma cerimônia xintoísta. O que você me recomenda?” Na hora pensei em sugerir um sake “MUSUBITO” da Província de Gunma, norte do Japão. Tratava-se de um saquê Junmai Guinjo (Premium), artesanal, frutado e delicado. Expliquei todos esse detalhes e enfatizei o nome do rótulo. “MUSUBITO” é um nome composto de “musubu” (amarrar) e “bito” (pessoas). Ou seja, “Amarrar Pessoas” no sentido de união. Na hora ela deu um berro no telefone e que ao invés de pegar a garrafa no dia seguinte, inicialmente combina, veio no dia mesmo à tarde. Ao chegar, mostrei o rótulo e ficou deslumbrado. E o engraçado, era a minha empolgação. Até me convidou para o casamento, que de fato, nem a conhecia direito. Agradeci e disse que sou: “Um mero vendedor de emoções”. Ela me abraçou, a mãe dela me abraçou, e além de vender uma mercadoria, proporcionei momentos felizes, antes de viverem felizes para sempre.

2º Relato

Numa tarde chuvosa, entra na Adega de Sake, uma senhora bem velhinha e simpática, manuseando a sua bengala com dificuldade. Dei a volta no balcão e me aproximei dela, segurando a pelo braço. Pedi que ela se sentasse na cadeira e ela me pediu: “Tem o saquê Matsuno Kotobuki Junmai Genshu?” Me assustei por ela já apontar um rótulo específico e raro, mas para a nossa felicidade, eu ainda tinha 5 garrafas de 720ml. Abri um sorriso e peguei a garrafa e mostrei a ela. Ela ficou tão satisfeita e me pediu para embrulhar para presente. Depois de cobrar, peguei a sacola e fui com ela até o ponto de taxi.

Semanas depois, o telefone toca, e era a simpática senhora. Ela, mais uma vez me agradeceu, por ela e pelo falecido marido, que pôde tomar o saquê da terra natal, como um último desejo antes de partir. Meus olhos começaram a arder, ficaram umedecidos e não falei mais nada. Mas um alívio por ter dado uma última alegria à uma pessoa desconhecida.

3º Relato

Conversando com uma amiga, que havia comprado saquê comigo, falava que se passasse no exame da OAB, que iria comemorar abrindo a garrafa. A prova dividida em duas fazes, já na primeira, não conseguiu atingir os pontos exigidos, para o terror dela. Com toda a dificuldade, tanto financeira, tanto emocional, ela batalhava muito, como muitos nesse país. Era um sufoco, tanto para ela, quanto para mim, que torcia e sofria juntos. No meio de um tsunami de lágrimas que ela jorrava, eu disse: “Vai dar tudo certo. O resultado oficial ainda não saiu!! Não se desespere agora. Er..........a garrafa que você comprou dá sorte!!” Dito e feito. Como se fosse um milagre, no meio de questões anuladas, ela conseguiu prosseguir para a segunda fase. E ainda nesse mesmo embalo, pisando em um terreno instável, conseguiu também passar a segunda fase. E sem dúvida, abriu a garrafa para comemorar e ainda disse: “Vou guardar a garrafa, mesmo depois de vazia. Quando eu ficar desesperada novamente, vou olhar pra ela e acreditar que posso conseguir tudo!!”

Bom, na verdade não preciso gastar tanta energia para efetuar a venda de 3 garrafas de saquês. Não tenho a obrigação de encher esse post com um texto gigante. Mas também, concordam que uma vida MECÂNICA, não teria a menor graça!!

Pense nisso.