24 abril 2011

Responsabilidade aos Irresponsáveis




Esse é um relato de um produtor de sake, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente na Adega de Sake. E pelo que ele me contou, pude imaginar todo o cenário de um acontecimento comum, mas um pouco preocupante. O consumo de bebida alcoólica por jovens.


Todo ano, no final de fevereiro e começo de março, reunimos todos da fábrica, para o tradicional HANAMI, no maior parque aberto ao público de Nagoya. Uma época belíssima para apreciar as flores da cerejeira, o Sakura. Como sempre, uma multidão de pessoas, disputam os pés de Sakura, para se abrigarem e fazer um belo piquenique. Apesar do pressionado rítmo na produção de sakes, pois o mês de março é justamente quando as bebidas ficam prontas, decidimos que a equipe, precisa de um descanso físico e principalmente mental. Olhar as flores, acalma a alma. Então estamos aqui novamente e dar as boas vindas a primavera.


Muitas pessoas se reunem, numa espécie de ação de graça. Famílias, amigos, empresas, tudo de forma descontraída e informal. Comem, bebem, cantam e uns se arriscam a dançar.

Nesse ano, pedimos para um restaurante tradicional da cidade, fazer os nossos pratos e inclusive, convidamos a participar. Estes prontamente aceitaram, o que tornou-se uma tarde maravilhosa e alegre. É inevitável que assuntos sobre trabalho aparecem nas nossas conversas. Mas podemos ouvir feedeback de ambos os lados, o que torna muito importante. Mas o assunto não é esse.


Bem ao nosso lado, estavam um grupo grande de universitários, fazendo uma espécie de concurso de imitações, o que no começo era até que divertido. A pessoa que imitasse mal, tinha que pagar a prenda. Tomar uma tigela grande de sake, de uma vez. Claro que para os nossos olhos, mesmo de longe, identificamos os rótulos. Todos da categoria Guinjo. E pelas marcas, cada garrafa não sairia por menos de 7.000 ienes (ou aproximadamente R$ 133,00). Não é uma bebida para brincadeiras de estudantes. Decidimos não olhar mais para o grupo e só voltar a observar, quando alguns rapazes, estavam deitados perto da árvore. Aparentemente, pareciam estar dormindo, mas cheguei perto e estavam desmaiados. Estavam intoxicados. Chamamos a ambulância e acompanhamos até o hospital. Avisamos os pais e depois fomos embora.


Dias depois, os meninos que socorremos, vieram até a fábrica para agradecer. Foi aí que disse:

- Venha pra cá. Experimente um sake.

- Não, imagine. Depois do que aconteceu, quero distância de bebidas.

- É por isso que quero que provem. Não quero que o sake, fique taxado como uma coisa ruim.

E dei uma dose de sake Guinjo para cada um, com um restinho de um aperitivo que comemos no almoço. Um Kimpirá (Refogado de bardana com cenoura e gergelim branco, levemente doce e bastante apimentado)


Os 5 provaram e se deliciaram com a combinação.

- Vocês tem uma longa vida, daqui para frente. Depois de um trabalhão para entrar na faculdade, é desperdício morrer por causa banal. Tudo na vida, que se prove, com calma e atenção, torna-se uma experiência única e bastante agradável. A gastronomia, é um dos únicos prazeres, sem restrição de idade, sexo ou posição hierárquica. Por isso aproveitem bem a vida.


Agora fico me perguntando. Quantos já não morreram ou estão “tentando” fazer isso? Acham que beber de forma exagerada ou grotesca, torna-se o bonzão, diante de olhares ignorantes. Até quando vamos ver famílias que perdem filhos e filhas, amigos e amigas? O álcool é o responsável por tudo isso? Estabelecimentos e consumidores irresponsáveis são vítimas? Vítimas são aqueles que dão a vida para produzir as bebidas, pessoas que seguem a risca a boa conduta, e principalmente as pessoas que não tem nada a ver com isso, e morrem atropeladas na volta para a casa.


Pense nisso. E PENSE BEM!!


13 abril 2011

A Honra da Profissão




Este é um relato de um velho Itamae (Chef de Cozinha Japonês), que na sua juventude, se deparou em um verdadeiro teste de fogo, colocando toda a sua vida e trabalho em jogo.


Seu cargo, Nikata (Responsável pelo Tempero) da pequena cozinha de um hotel em Hiroshima, Japão com seus 3 asisstentes e substituindo os seus dois superiores, onde um estava de viagem e outro dispensado por motivo de saúde. Parecia um dia tranquilo. Haviam dois grupos de hóspedes que chegavam de Tokyo e outro de Yamaguchi. Porém este último, quando a recepção ligou para a cozinha, se tratavam de 27 integrantes da Yakuza, a Máfia Japonesa. Um grupo que muitos estabelecimentos temem em atender,pelo seu comportamento arrogante e intimidador. Por regras em empresas hoteleiras não é permitido andar sem camisa por todo o recinto, o que é a primeira coisa a desobedecer. Para mostrar as suas belas tatuagens, símbolo de poder, status e hierarquia, costumam ignorar as regras. Na teoria, não são violentos com pessoas comuns, mas basta esbarrar no ombro de um deles, para ter a vida um inferno.


Depois de se acomodarem em seus aposentos, o gerente do hotel, foi chamado no grande salão, onde o grupo descansava de um tranquilo banho de termas.


- Traga toda a bebida que vocês tiverem. E outra coisa, para alegrar esse povo, monte dois Nyotaimori.


O gerente ficou perplexo pelo pedido. Tratava-se da montagem de sushis e sashimis em cima do corpo de mulher nua. O gerente saiu voando em direção à cozinha, o que foi prontamente recusado. Pensando em mil maneiras de pedir desculpas, entrou no salão o que provocou uma risada malígna.


- Não estou dizendo para pegar uma Nakai (atendente de kimono) ou qualquer funcionária. A gente já tem duas mulheres pra isso.

- Er.......infelizmente o nosso pessoal da cozinha insiste em recusar o pedido......do senhor.

Nesse momento, a ira.

- ENTÃO TRAGA ESSE TAL RESPONSÁVEL DA COZINHA!!!


Mas uma vez voando e sem sentir os pés no chão, foi chamar o Itamae. Esse de imediato, foi ao salão junto com o gerente.


- Então, meu caro. O que custa, colocar fatias de peixes em cima da mulher, hein??? O que tem demais???

- Estou recusando, por eu ter amor a minha profissão, e principalmente à mulher. Acredito, que a mulher não foi feito para isso. Vocês nunca amaram alguém?


Gritaria de todos os lados e um deles, agarrou o jaleco do chef. Nisso, um senhor de cabelo curto, discreta cicatriz no rosto e mal encarado, surge por trás de todos. os integrantes, quase se jogando para os lados, abrem o caminho. Ao sentar no tatame, uma almofada era colocada, um colocando o cigarro na boca do chefe e outro com o isqueiro aceso.


- Ouvi o que você disse. Penso que é obrigação de todo o estabelecimento atender as exigências dos clientes. E se está recusando um pedido, é porque pode oferecer coisa melhor. Então vamos fazer o seguinte. Me ofereça o melhor, que eu pago em dobro, os 27 quartos que estamos. Agora se eu achar que a sua comida é um porcaria, quero o seu dedinho como prova de honra. Que tal?

O Nikata e o gerente ficaram horrorizados.


- E então, o que acham da idéia?

- Mas, e se mesmo nós apresentarmos uma boa comida e os senhores não admitirem a verdade?

- Vivo nesse mundo a muito tempo. Não gosto de mentiras. Tem a minha palavra.

Os dois ficaram mudos.


- Se entenderam, VÃO LOGO PREPARAR A COMIDA!!!!


Nisso foram os dois se juntar a equipe e trataram de preparam o banquete. O Chef mesmo percebeu depois, que até o gerente estava ajudando na cozinha, o que não era a sua função.

Passaram horas de terror, quando muitos estavam se divertindo, tomando saquê do barril, banhos de cervejas, os mafiosos falando alto, e o chef e o gerente sentados no canto, aguardando o veredicto. A cada vez que engolia a seco, era muita tensão. E quando chegou o momento, se aproximou do chefe e:


-O que acharam da nossa comida?

O mal encarado olhou de cima para baixo e respondeu:

- Tava muito bom.

Os dois não acreditavam.


- É meu jovem. Você venceu.

Os dois se retiraram, com uma mistura de alívio e felicidade. Aquela vontade de fazer xixi nas calças.

Um dos superiores da máfia, se dirigiu ao chefe.


- Chefe, eu particularmente não achei grande coisa.

- É mesmo. Bom mesmo não tava, mas não tava ruim.

- Então por que chefe?

- Eu reparei a na faca que ele guardava dentro do jaleco. Se caso eu reprovasse, me ameaçar ele não ia, porque não é bobo. Ele pretendia cumprir o trato. Isso é uma coisa que a gente não vê mais hoje em dia. Honrar a sua profissão. Eu mesmo o queria para nosso grupo.


E você? O quanto apostaria para honrar a sua profissão? Pense nisso!!