30 junho 2012

Remanso & Reflexão

 Felipe e Thiago Castanho do Remanso do Bosque e Remanso do Peixe

Há oito anos atrás, projetei um trabalho que hoje é o meu principal. O estudo dos Sakes. No intuito de preservar a cultura de uma bebida, que tem ramificações em várias partes da história, mitologia, eventos festivos e alguns tristes do Japão.
 
Não sou um entendedor nato de bebidas alcoólicas, mas 24 horas por dia penso nesta riqueza. Dia após dia, fui provando os mais variados rótulos de sakes para sentir o seu aroma e sabor, fiz anotações técnicas ao meu modo e consegui ter uma noção de como elas são. Mas ao mesmo tempo que estudo a bebida, também comercializo. Ou seja, estudo na teoria e sinto na prática. Como os consumidores reagem, quais as suas dificuldades de compreender, o que elas buscam.
Dessa forma, ao longo desse tempo, criei a minha maneira de abordar os clientes o que não funcionaria em outro lugar ou outra pessoa. Isso tudo me rendeu um certo prestígio e reconhecimento o que tornou o meu trabalho em uma grande responsabilidade. O que era apenas um projeto para trilhar o caminho correto da bebida no Brasil, acabei criando o trem e suas composições.
 
Esse trem acabou de romper as fronteiras do meu comercio, e passei a visitar vários lugares a fim de levar a minha “receita” para transmitir a cultura do sake. Fui convidado para dar aulas em uma renomada associação que forma sommeliers no país, treinamento de brigada em restaurantes e escrever colunas sobre a bebida para instituições no Japão.
Mas a cada desafio que é colocado na minha frente, coloco a minha mente na estaca zero. Ou voluntariamente ou involuntário. 
 
Recentemente fui convidado a dar uma palestra no Restaurante Remanso do Bosque em Belém/PA dos irmãos Thiago e Felipe Castanho num jantar harmonizado. Duas figuras muito queridas na gastronomia brasileira, que usam os ingredientes amazônicos para agradar todos os gostos. Tanto as pessoas que vivem na região ou recém chegados. Com sabores muito particulares, mas que conseguem dar uma pitada de suavidade, o que encantou e muito a grande colônia japonesa na cidade.
 
Quando Thiago ligou me convidando, aceitei na hora. Já o “conhecia” pelas mídias sociais e uma tremenda reputação contadas por seus colegas cozinheiros. Inclusive pelo Itamae, Shin Koike do Restaurante Aizomê em São Paulo. Apesar de muito simpático, sei que não é de elogiar muito as pessoas. Um carinho e dedicação que Thiago tem pelos ingredientes, foi o que mexeu com o chef nipônico. 
 
Então me senti honrado em ser chamado por um profissional de calibre, uma pessoa como eu, que apenas tenho o conhecimento da bebida. Sei e estudo as combinações do sake com a comida, mas não cozinho. Sei de ponta à ponta sobre a fabricação da bebida, mas nunca produzi sake. E de repente vem esse chamado, seria uma desfeita em não participar.
 
Com muita honra e respeito, parti para Belém e o desejo de o quanto antes conhecer esses irmãos. E desde a minha chegada até a partida, um tsunami de simpatia e gentoleza dada à mim, que chego a me emocionar. Mas também ganhei uma pesadíssima lição. NÃO SEI NADA DE PEIXES. Pude experimentar os saborosos pratos do Remanso do Pexie, o ponto de partida de todo o trabalho da família Castanho.
 
Novamente estava na estaca zero. Tenho que reaprender e muito os diversos sabores escondidos nesse país, que muitas vezes, não valorizados por nós.
 
Um dos principais objetivos do Remanso do Bosque, é o projeto VISITA GOURMET, onde a cada mês é convidado um chef de renome para mesclar as técnicas usando ingredientes da região.
E na ocasião que fui convidado, dividi a semana com o chef Sergio Tsutsui do Restaurante Hakata em Belém e Shin Koike do Aizomê, de São Paulo, para promover a homenagem à colônia japonesa na cidade, apoiado por precisos patrocinadores e o Consulado Geral do Japão.
 
Definitivamente foram emoções fortes. Mesmo depois de ter passado alguns dias do meu retorno, somente hoje, consegui refletir tudo e colocar nesse post.
 
Meu desejo é que todos os cozinheiros de diversas regiões, possam fazer esse tipos de intercâmbio. Que todos os profissionais de vários setores da gastronomia, possam compartilhar informações e técnicas.
 
Vida longa aos irmãos Thiago e Felipe Castanho e sua belíssima família!!