04 agosto 2012

Arte da Guerra




Hoje, vejo meninos e meninas de 13 à 17 anos, se esfregando, engravidando e fazendo coisas que não tem mais volta. Um exemplo são as drogas ou no mínimo o consumo inconsciente de bebida alcoólica e o tabaco. Não saberia o que pensar, quando os meus filhos chegarem nessa idade. Muita conversa, muita cumplicidade e disciplina, seriam a chave para colocar essa molecada nos trilhos, porém falhamos.
Mas também, vejo jovens nessa mesma idade que se despertam para desejar tomar um rumo dígno. Não para mostrar dignidade aos outros ou para os familiares. Mas para si mesmo.
Eis que no dia de hoje, uma correria infernal, cliente atrás de cliente, ou enquanto aproveito que o movimento recua um pouco para comer algo, dois meninos vem me visitar, sendo que um deles é filho de uma amiga jornalista no qual temos um elo no ramo da gastronomia.
Veio e me apresentou um amigo, que estuda na mesma sala de aula e que ambos entraram na academia de Kenjutsu. Quem comanda as várias unidades da arte no Brasil, também foi e é meu mestre de Kendô, meu grande mentor para a conquista do Campeonato Mundial de 91 em Toronto, no Canada.
Com os olhos quase pulando de seus rostos empolgados, ouviam cada palavra que eu falava, sobre a experiência que foi suportar e honrar a dolorosa caminhada da arte marcial. Muitos que hoje praticam qualquer modalidade, honram não só a parte técnica e física, mas a espiritual, controle emocional e a formação de caráter.
Praticando desde os meus 9 anos de idade, e morando num prédio onde vivam várias crianças, toda quinta-feira às 18:30 era o terror, Descia o elevador e quando parava no térreo, via muito dos meus amigos brincando. Pensava: “Por que tenho de treinar enquanto todos estão brincando?”. 
E para piorar, durante os treinos, era gritaria dos mestres, dos meus superiores, exercícios exaustivos, um completo curso do BOPE, só que com vários Capitães Nascimento!! Mas olhava ao redor e via meus companheiros na mesma situação:
“Não sou o único que estou sofrendo.”
Pensava comigo mesmo. Então passei a me empenhar bastante e ao conquistar o SHODAN ou a faixa preta com 14 anos, senti que valeu muito a pena. Vieram vários torneios  e me classificando, até chegar ao auge, o Mundial. Mas o peso da importância da arte ficou mais forte, quando comecei a trabalhar e ao virar pai. 
Me lembro, quando os mestres e veteranos falavam: “Nunca olhe apenas para cima. Olhe também para baixo.” Esse ensinamento era para se tornar um bom líder. Sempre olhar para frente, mas nunca esquecer que tem pessoas precisando de sua ajuda. Quando você é novo, precisa ter alguém para se espelhar, uma posição, um objetivo. Porém com o passar do tempo, precisa também notar, que há pessoas atrás de você, mais nova, te espelhando. 
Com vários ensinamentos que obtive no Kendô, me dei muito bem em trabalhar em várias empresas, chefiando e sendo chefiado, hoje proprietário e pai. Posso dizer, que todo aquele inferno que passei, justo ou injustamente, valeu muito, mas muito a pena. 
Vai um recado para os pais. A arte marcial, como o nome diz: “Arte para a Guerra”, é semelhante ao regime militar. Seus filhos vão enfrentar vários obstáculos surreais. Vão gritar com eles, vão bater neles, vão humilhar até dar dó. Porém a diferença entre uma academia de arte marcial e vida real, é que o primeiro, são simulações e exercícios, e se errar, são perdoados.
Nenhum pai ou mãe, gosta de ver seu filho sofrer. Mas garanto que faria tudo de novo e hoje como pai, jogaria meus filhos aos lobos, para que voltem com a matilha.