10 fevereiro 2010

CULTURA X MERCADO

Gasto pelo menos dois minutos e meio para explicar o que é saquê, para depois achar um bom rótulo, independente se é caro ou barato. Só que de 5 pessoas, 2 compram. O restante “agradece a aula” e nunca mais voltam. Aí eu bato a cabeça no seguinte dilema:


Ou me adapto ao mercado, ou eu crio o mercado.


Se eu me adaptar ao mercado, ou seja vender o que os consumidores querem, poderia dispor de rótulos baratos custando R$ 20,00 à R$ 35,00. Poderia sugerir usar para a caipirinha de saquê. Não teria o mínimo trabalho de pesquisar rótulos interessantes, e consequentemente, não gastaria um tostão em ligações internacionais. Não gastaria menos de 30 segundos para efetuar uma venda e assim poder atender mais clientes. Aproveitaria o desconhecimento do povo brasileiro, e diria sim que quanto melhor o saquê, melhor fica a caipirinha de saquê. Mas.........


Eu optei em pegar o caminho mais difícil, em todos os sentidos. Para começar, com o país que eu negocio. Praticamente o mais longe do Brasil, onde os navios demoram cerca de 45 dias para chegar aqui. Contatando um povo que com apenas um erro de vocabulário, eu posso fracassar na negociação. Com grandes fábricas de saquês, posso conseguir um bom desconto e ter uma bebida padrão, já que são máquinas que produzem. Tem uma visão global do mercado e uma experiência em exportação. Por outro lado, uma fábrica pequena e com uma administração familiar, simplesmente não te atende, ou são ingênuos no mercado. Conseguir fazer um negócio, exige muita paciência e tato, sem falar na conta telefônica. Depois que resolvem vender, as garrafas são submetidas em vários processos para o embarque. Desde o agenciamento de navios, aluguel e montagem dos containers, Risco durante a viagem e condições climáticas. Chegando no porto de Santos, a mercadoria recebe uma cobertura generosa de impostos. Burocracia atrás de burocracia e só depois chegam ao nosso depósito. Acha-se que termina aí. Mas depois que os saquês chegam nas nossas estantes, começa um trabalho de transmitir todo o histórico e a cultura da bebida. Tento descobrir o gosto do cliente, faço algumas perguntas, e depois empacoto e efetuo a venda. Isso sem falar nos cuidados para ter antes e depois de abrir a garrafa.


Ufa. Mas quer saber de uma coisa? Não troco esse trabalho por nada. Principalmente quando se ouve:


“Nossa, o saquê que você escolheu pra mim, é magnífico”