29 agosto 2008

Você sabe o que come?


Muitos que vão jantar em restaurante japonês, 80% não fazem idéia do que estão comendo. Muitos reclamam do preço que não compatível com o "volume" e pelos ingredientes. Daí afirmo que muitos não sabem o que estão comendo, e dá vontade falar "porque não vão jantar em outro lugar?" Você não reclama no aeroporto que a passagem da primeira classe é incompatível com o preço. Só tem uma poltrona como todas as classes, todos chegam no mesmo horário, e o avião é o mesmo. Claro que o tratamento é diferenciado, salas VIPs, brindes e prioridade no embarque e nas bagagens. Agora isso não acontece nos restaurantes.
Uma vez jantei em um dos restaurantes mais sofisticados de SP e lá sentei ao lado de um casal que reclamava do preço. Que não era justo, que era roubo, que era uma falta de respeito com o consumidor. O Chef e o maitre, educadamente explicavam tudo. Mas nada faziam com que o casal acalmassem.
Bom, além de me encher o saco com aquela gritaria, eu me prontifiquei e puxei a minha cadeira para perto deles. Eles estavam reclamando que o prato (2 patas de centolla ao molho momiji oroshi, ovas de salmão, brotos de nabo e kakuni de torô) não estava compatível com o preço de R$ 45,00. Perguntei à eles se sabiam de onde vinham as patas de centolla. O rapaz disse que vinha do Chile. Mas na verdade a centolla, se chama Seiko Kani, que vem da ilha de Hokkaido no Japão, e é muito difícil de comprar lá, quanto mais importar para cá. Tripulantes arriscam a vida para pescar essa iguaria. As ovas de King Salmon, vem do Alaska. Brotos de Nabo é produzida por uma senhora que só ela sabe fazer, com talinhos uniforme e folhas bem vivas. Não se consegue obter em grande escala, se não mata a velha. Pedaços generosos de Torô (parte mais nobre do Atum Gordo) já dispensa explicações. Fora custo e venda, o prato significava muita coisa. Harmonização, a arte do chef, a beleza e o requinte, e um prato tradicional na parte norte do Japão, onde se aprecia em grandes comemorações.
Resumindo, o casal não fazia idéia do que estavam comendo. Até fiz o cálculo para ver se era compatível ou não (Isso que dá saber o preço de custo de tudo). Pedi para que depois dessa explicação, apreciasse o prato, e que mesmo assim não gostassem que eu pagaria o prato. Cada pedaço que seguia para a boca do casal, abriam um sorriso. Pedi para trazer duas doses de saquê Junmai e Seco. Provaram e adoraram. Acabaram pedindo outra porção, e mais doses de saquê. Salvei a noite do casal, do Chef e do Maitre.
As pessoas tem que entender que não é só um prato que está a sua frente. Existe todo um cuidado, pesquisa, história, tradição, conhecimentos, que não tem preço. E como assistir um filme. Efeitos legais, a protagonista gostosa, bons atores, pancadaria e sexo. Mas muitos não percebem a mensagem o que os diretores e roteiristas querem passar. Por isso aqui vai a minha dica. Pesquisem o restaurante se é compatível com o seu bolso, assim como faz na hora de escolher uma companhia aérea. Veja o que eles oferecem e vejam se agradam. Mas tem muitas coisas que a gente não enxerga e que não tem preço. E sabem de uma coisa, as companhias aéreas tem tratamentos diferenciados para cada classe de passageiros. No restaurante, todos são tratados da mesma forma.
E você, sabe o que está comendo?

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