Para quem viajar ao Japão e visitar a província de Kyoto, que foi a primeira capital do país, pode se deparar com uma mensagem um pouco assustadora, mas ao longo desse post, (talvez) entende o porque.
É muito comum observar ou ouvir a seguinte frase:
「一見さんはお断り。」
Em Kyoto, é muito comum, lojas especializadas em apenas um único produto. Um exemplo, é uma loja de TOFU, que uma porção, pode sair por R$ 200,00. Lojas de doces, lojas de vinagres, lojas de pimenta, de Guetas (chinelos japoneses de madeira), etc. E nenhum deles, são feitos em larga escala, não tem funcionários, não tem máquinas. Uma produção bastante limitada, onde os produtos ficam nas vitrines, mas sem ninguém para atender. O cliente que entra, deverá chamar o profissional, que trabalha nos fundos. Lógico que não aceita cartões de nenhuma espécie e cheques o que quase ninguém usa. Tudo em dinheiro vivo. A quantidade que um cliente pode levar também é limitado.
Restaurantes e izakayas, também adotam a restrição. Ao passar pela porta, o Itamae (Cozinheiro japonês), te atende com toda a educação do mundo, explica o não aceite e convida para se retirar. Lógico que eu sem saber e puto da vida, fui embora. Conversando com um amigo que tem um restaurante, combinamos então de conhecer a casa na noite seguinte.
E lá fomos nós e quando entramos, o mesmo Itamae, nos recebeu com o mesmo sorriso da noite anterior e começou a trabalhar normalmente sem nenhum tipo de remorso à minha pessoa. Esse meu amigo também não disse nada. Eu pedi o cardápio e fui cutucado. Olhei para o Satoshi (meu amigo) e ele fazia “não”com a cabeça. Eu puto de novo disse à ele ironicamente: “Quem sabe o chefe, adivinha o que eu quero beber.”
Bom, esperamos pela nossa comida, sem saber o que viria. Quer dizer sabia mais ou menos, pois era um Sushiyá. E do nada, o dono todo simpático me perguntou algumas coisas, como a minha cidade natal, o que eu faço, o que gosto e não gosto de comer. Disse um pouco sobre como é o gosto dos brasileiros. E do nada, ficou em silêncio. E depois de 5 minutos, começou a vir os primeiros pares de sushis. Primeiro veio o torô, linguado, baleia, lagostim, camarão, olhete, pargo, enguia, kaiware, akagai, e mais um monte sushis. E sempre que o dono observava que o meu Yunomi (copo de chá) estava quase vazio, trocava por uma cheia. Quantidade de wassabi no ponto, e o Kozara (pratinho) de shoyu, eram trocados o tempo todo, já que a gordura e o sabor peixe, podem se atrapalhar. Só depois de comer, o dono pergunta, o que eu quero beber (álcool). Pedi um shochu e ele me serviu um de cevada envelhecida por 10 anos.
Tudo muito bom, e muito caro!! Ficamos por último e o dono deu a volta no balcão, e se sentou ao nosso lado. E finalmente ele me explicou, porque não aceita cliente “de primeira viagem”. O motivo na verdade é bem simples.
- Captar novos clientes é tão importante, quanto manter os fregueses. Mas eu e vários estabelecimentos, trabalham sozinhos ou com um ajudante. Não temos como atender todos. E se sacrificarmos alguém, não será o freguês, que já conhece todo o sistema da casa, não questiona o preço e sempre volta. Por exemplo, o jantar de vocês, custou R$ 350,00 cada um. Mas se fosse dois dias atrás, poderia ser R$ 220,00. O Torô, a partir de ontem, disparou o preço, como outros peixes. Imagina um cliente que não sabe como funciona o mercado de peixe? Poderia questionar o preço, dizendo: “Mas no outro restaurante, eu pago bem menos!!” Não posso perder tempo, explicando isso e deixando de atender os fregueses. Não estamos aqui para ganhar tanto dinheiro. Mas sempre oferecer o melhor serviço, para aqueles que já nos conhecem. Funciona mais como um restaurante privativo.
3 comentários:
eu acho ótimo!
belo texto!
Olá JB
Pois é. O bom que jabalândia, nem passa pela cabeça do pessoa de Kyoto. ihihihihihi
Abracos
Taí!
Curioso e interessante, gostei
Abraços.
Dalmo
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