10 dezembro 2009

Eu Amo Odiar


Duas noites atrás, quando não chovia muito e tinha poucos carros nas ruas, próximo a Paulista, levei uma garrafa de saquê para degustar com um velho amigo (Chef de cozinha), no seu restaurante. Papo vai papo vem e de repente um grupo de 4 meninas, sentaram bem próximo onde eu estava. Mesmo falando baixo, dava para perceber, que uma delas, não era muito fã de comida japonesa. Mas pela empolgação das outras, acho que estava fazendo aquele sacrifício.


Quando o garçom foi pegar o pedido, perguntou depois de anotar, o que as moçam iriam beber. As 3 pediram saquê e a dita cuja, cerveja. Até aí tudo bem. Mas deu para ouvir que “Eu odeio saquê”. Bom aí eu pensei. Não gostar se baseando em 2 ou 3 marcas dava para compreender. Odiar, então deve ter provado as 18 marcas ou 78 rótulos de saquês disponíveis no mercado brasileiro para afirmar isso. Então resolvi fazer uma brincadeira, e pedi uma taça de vinho ao garçom. Enchi até a metade do saquê que levei e o Chef levou até a morena, que por sinal, muito bonita. Aceitando a taça de bom grado, me agradeceu e perguntando o que era. “Vinho branco, da África do Sul”, respondi. Então ela tomou um gole, e se deliciou toda. “Nossa que delícia, leve, macio, refrescante e mais suave que os vinhos de outros países, não?”. Respondi que sim, e ela trocou de lugar com uma das amigas e sentou ao meu lado. Me aproximei do ouvido dela e disse: “O que você tomou, foi um saquê Super Premium, da província de Aomori, norte do Japão. Mas não se preocupe que eu fico de boca fechada”. Sensivelmente constrangida, ela deu um sorriso tornou a me agradecer e voltou a atenção ao assunto das meninas. O Chef com a mão na boca, balançava o ombro, juntando as rugas do rosto.


É comum as pessoas generalizarem as coisas se baseando em 1 ou 2 itens. “Eu amo”ou”Eu odeio”. A minha rotina é essa. Muitos clientes vem dizendo que amam saquê. E a grande maioria, por causa da caipirinha. Mas pouco a pouco, estão descobrindo as sutilezas da bebida e da comida, o que é bom culturalmente. Até lá, a minha paciência é como o saquê. Fermentando lentamente.


Ah, a garrafa que levei no restaurante, tomamos eu, o Chef, as 4 meninas. Não sobrou nenhuma gota. E a morena, perguntou o que eu fazia. Respondi: “Sou consultor de sake”.


Aí que ela ficou constrangida de vez e me pediu desculpas. Mas como estou acostumado, até que foi muito divertido.