01 maio 2011

OKAMI, A Poderosa


No Japão, existe um termo popular chamado OKAMI, que significa proprietária de um estabelecimento tradicional japonesa, como restaurantes, hotéis ou empresas que não dispõem de estrutura e recurso administrativo. Claro que existe o DANNA, o homem, mas curiosamente, ouvimos falar de mulheres que tocam uma empresa sozinha, ou por não trabalhar com o marido ou o mesmo tenha falecido. Com seu belo kimono, cabelo perfeito, anda pelo estabelecimento com toda a pose, confundindo os seus funcionários, claro os novatos ou desinformados.

Recentemente, tive a oportunidade de conhecer uma Okami de um restaurante da Província de Gunma, centro-norte do Japão. E não me contive e perguntei de suas várias funções de seu trabalho.


Eu: - O que difere o seu trabalho de uma Okami, com os demais restaurantes?


Ela: - (modestamente) Não posso dizer por todas, mas o meu trabalho, é insignificante. Administro um restaurante que meu marido me deixou, e delego funções ao meu Hanaita (Chef de Cozinha Japonês) e o Oobantô (Gerente Operacional). Mas uma vez que depositei a confiança neles, não posso me intrometer a nada. Isso faz com que meus dois chefes, tenham o mesmo peso que o meu. Por isso, desde manhã bem cedo, me sento com eles, para checar os grupos de clientes que temos para o dia. De onde vem, de que empresa são, se tem crianças e se algum deles tem restrição para algum tipo de alimento.


Eu: - Diariamente?


Ela: - Todo dia. Cada dia é um história diferente. Depois verificamos a condição da equipe. Se alguém está de licença ou compromisso pessoal. Checamos os ingredientes, as louças e toda a estrutura da casa.


Eu: - Bom, até aqui, me parece semelhante a qualquer empresa.

Ela: - Isso mesmo. Mas depois de terminada a reunião, não me interfiro em nada. Depois vou escolher o kimono, de acordo com a estação do ano. Escolho tecidos mais floridos para a primavera e verão, discretos para o outono e inverno. O meu kimono, nunca deve estar mais belo que o cliente, pois devo estar presente, mas não me destacar. Vou ao cabelereiro todos os dias, mas o coque é sempre igual. Quando há tempo, faço aulas de Ikebana (Arranjo de Flores) e Sadô (Cerimônia do Chá). Eu mesma, faço o arranjo de flores de todo o restaurante. Tenho que transmitir a minha recepção aos meus clientes, e as flores me ajudam. A cerimônia do chá, me ajuda a concentrar e me tranquilizar, principalmente para os dias corridos.


Eu: - Agora sim, sinto uma personalidade viva na casa.


Ela: - Exatamente. Depois do descanso após o almoço, eu e o Hanaita, conferimos toda a receita do menu. Não para ver se está certo ou não, mas para eu saber. Quando inicia o serviço de jantar, devo percorrer todas as sala (tatami), para dar as boas vindas. E posso ser questionada ou perguntada sobre algum ingrediente. Devo saber, onde foi comprados, de onde vem, como foi pescado ou colhido, a proporção dos temperos, etc. Devo saber tudo na ponta da língua, e não posso colar (risos).


Eu: - Se uma conhecida ou amiga, vier jantar? A senhora dá uma atenção especial?


Ela: - Devo tratar todos os clientes por igual. Não é por ser uma amiga, que vai pagar caro ou barato. Todos estão pagando por um serviço que oferecemos. Então não posso diferenciar nenhum deles.


Eu: - Vamos supor que uma delas insista.

Ela: - É difícil acontecer. Se é muito minha amiga, seria a primeira a entender do meu trabalho e querer me dispensar o quanto antes. Nunca me sentei ao mesmo nível ou no balção com um conhecido, pois aquele lugar é sagrado. É do cliente, que pagará as contas dos restaurante. Sempre que me sobra tempo, fico próximo da pessoa, mas em pé.


Eu: - Como é lidar com a equipe de funcionários?


Ela: - Sou a mãe de todos eles. Mas mais pareço uma avó. Não devo me intrometer no serviço deles, apontando erros ou dar conselhos. Mas o meu papel é acompanhar de longe e ao mesmo tempo de perto. Embora nenhum deles tenha me procurado até hoje, sobre questões de trabalho ou salário, mas noto sempre na fisionomia dos meus meninos. Se vejo algo errado, tento deduzir de algumas forma. Uma vez uma das Nakais (garçonete) estava um pouco preocupada. Era o dia do Sankambi (Dia que os pais acompanham as aulas dos filhos) e ela queria ir. Chamei o Oobantô e pedi a sua permissão. Prontamente me atendeu e eu a dispensei logo depois do almoço.


Eu: - Nunca teve problemas com a equipe?

Ela: - Nunca tive. Embora todos respeitem a hierarquia, eu os respeito em dobro. Como uma Okami e como pessoa. Sem eles, não sou nada.


Eu: - Como é lidar com a mídia, já que a senhora esteve em algumas revistas japonesas.

Ela: - A mídia, é um grande coletor de novos clientes. Mas a minha gratidão tem o mesmo peso que os clientes. As revistas trazem clientes. E eu tenho fazer eles voltarem. Não posso depender sempre da mídia.


Eu: - Nunca chegou a oferecer uma cortesia?


Ela: - Um única vez, talvez a primeira vez que um emissora regional veio filmar, ofereci o almoço, mas eles recusaram. Todos eles pagaram e eu não sabia onde enfiar a cara. Eles disseram, que eu ofereci um instrumento de trabalho e que eles deveriam pagar por isso.


Eu: - A senhora viaja muito a passeio?


Ela: - (Risos) É muito difícil. Mas quando viajo, é quando eu fecho o restaurante. Durante o expediente, somente em caso de saúde.


Lógico que perguntei várias outras coisas, mas acho que deu para ver o quanto um(a) proprietário(a), deve sempre estar presente e viver os seu trabalho.


E você, caro proprietário? Sabe exatamente o que acontece dentro de sua própria casa?


Pense nisso!!