29 agosto 2008

Moderno ou Básico?

Ando ultimamente, observando os pequenos detalhes em minha volta. Imaginem uma companhia aérea que oferece check-in pela internet, toneladas de opções de conexão, aviões ultra modernos, assentos que viram cama. Só que quando você chega no aeroporto, a sua reserva não está confirmada, etiqueta a sua bagagem para outro destino e perde o vôo, porque não foi anunciado.
Fui convidado para um jantar, por um casal de amigos em um sofisticado restaurante em São Paulo. Chegando, a casa estava lotada. Uma hostess muito atraente, veio nos receber na porta, e verificou a reserva. Porém, me pareceu não conferir, pois ela olhava em volta, procurando uma mesa com os olhos. Para a nossa sorte, um grupo de 5 pessoas estavam de saída, e ela educadamente pediu para que nós aguardássemos até que a mesa estivesse pronta. Enquanto isso, ficamos conversando e admirando a bela casa. Vidros em todas as partes, faziam com que restaurante parecesse amplo e mostrava os belos jardins japoneses. Uma enorme quantidade de lâmpadas que dava medo de olhar a conta de luz. Uma moderna e fabulosa decoração interna.
Depois de pronta a mesa, nos acomodamos e comecei a observar os detalhes. Ao invés de ouvir música ambiente, parecia que estávamos em um show. A garçonete estava equipada com um palm top para atender os nossos pedidos. Porém nem ela escutava o que pedíamos, pois com o som alto, as pessoas também aumentam o volume da voz. A carta de bebidas, na parte dos saquês fermentados e destilados, uma beleza. Dizia o nome da adega, teor alcoólico, acidez, os preços da dose e da garrafa, completo. Só que sem a marca. Muitos não ligam a marca com a adega.
A comida chegou. Sobre uma belíssima travessa de cerâmica japonesa, e um pargo inteiro e meio curvado exalava um aroma esplêndido, com uma arranjo de flores e várias folhas de shisso e um cumbuquinha de molho. Excelente se fosse o que eu havia solicitado, pois pedi um combinado de sashimis. Quando veio a dose de saquê, estranhei o seu gosto. Chamei a mesma garçonete, para verificar a marca. Ela procurava no seu moderno palm, a bebida que pedi. Não encontrando, ela se desculpou e diz que iria trocar. Mas trocar pelo qual, se ela nem lembra do que eu pedi? Mas tudo bem. Para não constranger ainda mais a moça na frente dos meus amigos, resolvi tomar que foi me oferecido.
A música continuou alto, tanto que resolvi ficar mudo, pois cansava a conversa. Então a minha amiga, disse para que fossemos para outro lugar. Topei na hora, e me ofereci para escolher um bom local. Bom, mais uma surpresa na hora de pagar. Mais uma vez, o pedido não condiz com o valor, e pela terceira vez, a garçonete veio até nós. Já impaciente, o meu amigo sacou o seu cartão e ia pagar o que estava apresentado. Na hora de pagar, houve um problema na linha e não debitava o valor...... aconteceram mais algumas coisas e saímos dali.
Agora na frente de uma humilde casa de esquina que era um sobrado, largamos o carro na rua, sob a vigilância do guarda do restaurante. Entramos e já logo de cara, um "Irasshaimasse" veio de trás do balcão escuro. Um senhor japonês, com sorriso no pescoço, nos indicou o lugar para sentar e logo em seguida, uma nippônica simpática veio pegar o nosso pedido. Sem nenhum bloco de notas e apenas com uma bandeja com 3 copos de chá e oshibori. Nos serviu, e fizemos o pedido. Ela foi memorizando, e virou-se para o balcão e repetiu os pratos em voz alta para o chef. Este logo captando, pediu para aguardar um instante. Perguntei a garçonete se não havia um menu de bebidas. Então ela foi falando as marcas que a casa disponibilizava, e as melhores formas de servir. Pedi um Hakutsuru gelado. O ambiente era bastante aconchegante, embora bem menos amplo que o primeiro. Mas muito confortável e as pessoas falavam baixo.
Minutos depois as nossas bebidas chegaram. O meu saquê estava bem gelado e muito agradável para receber o pratos que veio 1 minuto depois. Mais uma vez pedi um omakasse de sashimis, e veio uma quantidade generosa de torô, fatias de salmão de cor viva e bem gordurosa, linguado com casquinha de limão, akami picado com cebolinha, linguado com listras vermelhas, que pareciam adesivos. Perfeito! Os meus amigos também estavam adorando a comida e o ambiente. Mais doses de saquês chegavam, sempre com um comentário engraçado do chef. A alegria dele era tamanha, que conseguia unir todos que estavam na casa, parecendo um grupo só. Foi uma noite espetacular. E antes de pagar, o chef nos ofereceu uma porção de ochazukê, de cortesia. Diz que salva o estômago depois do saquê. Numa tigela de arroz, tiras finas de nori, com pedaços de salmão assado, gergelim branco com um pouco de wassabi. Um chá verde maravilhoso, foi derramado no monte arroz frequinho. Nossa senhora! Deu aquela acalmada na barriga, uma satisfação.
Agora eu me pergunto. O que vale mais? Uma casa super moderna, onde o luxo e a tecnologia rouba a beleza da comida, ou um ambiente sem muito requinte, mas que serve uma boa comida e um caloroso atendimento?

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