29 agosto 2008

Exagero ou Não?

Talvez pelo fato de vivermos em um país livre (livre até demais) que assustamos quando entramos em um restaurante sofisticado. Muitos em SP comentam do famoso restaurante JUN SAKAMOTO. Famoso em em dois estilos. Pela excelente comida e pela postura do chef que diz ser arrogante. Para esta segunda razão, conversei com vários clientes que jantaram no local e todos disseram da arrogância do Chef. Mais detalhado, dizem que você deve estar vestido, no mínimo em esporte fino. Sem reserva não entra. Necessário fazer um mini-curso para jantar. Já dentro do restaurante e principalmente no disputadíssimo balcão, o Chef te fuzila com os olhos se não comer do jeito que foi instruído. Exagero? Talvez por parte dos clientes, porque ninguém é bobo de maltratar clientes, ainda mais o proprietário.
Os brasileiros tendem a aumentar os fatos quando estão insatisfeitos. Por que digo isso, não só converso com clientes, mas com outros chefs de cozinha, e ouço o contrário. "Ele é uma pessoa dócil e tranquilo. Para trabalhar, ele é metódico e ele mesmo verifica item por item, para ver se não há nada de errado", diz o Chef do Restaurante A1. Os clientes dizem "Poxa, a gente paga uma fortuna, e o cara vem com grosseria dizendo que estou comendo errado! Eu como do jeito que eu quero".Então vamos ver por um outro ângulo. Imagine você com sua esposa entrando em um restaurante francês de alto nível. Sem que alguém diga alguma coisa, você está se produzindo todo, praticamente vestindo um terno. Fará reserva para não perder viagem. Você não falaria alto na mesa. Saberá que os talheres são usados de fora para dentro. Existem 3 copos para se tomar vinho tinto, branco e água. Se você não souber como proceder os uso dos materiais e o modo de comer, ninguém chegará para dizer como deve fazer. E o pior, vão rir de você, pelas costas.
Agora eu pergunto, alguém já disse como se portar e comer em um restaurante japonês? Está escrito em algum livro, revista ou site, a postura que deve seguir em um restaurante japonês sofisticado. No máximo, como deve segurar um hashi, como sentar no tatame, como deve servir saquê, como deve tomar missoshiru e chá.Pois é. O Jun Sakamoto, pelo menos ensina o cliente. Não apenas por causa dos pratos, que dá um trabalho imenso para equilibrar os sabores, e chega um desavisado e destrói numa piscina de shoyu. Você não gostaria que pegasse um prato que preparou o dia todo e fez com todo cuidado e carinho, e terminasse com um banho de pimenta.
Acho um certo exagero por parte dos clientes, mas sei também que nós brasileiros, não gostamos de levar desaforo para casa. Um dia assistindo um canal gastronômico do Japão e vi uma reportagem de um restaurante "extremamente rigoroso". A casa só tem 20 lugares, o que é necessário fazer reserva. Trabalham apenas o chef-proprietário e sua esposa que servem os clientes.Só para se ter uma idéia, vou listar as exigências da casa:
- Não pode entrar no restaurante sem reserva.
- Se é a primeira vez, não entra. Deverá ser recomendado por algum cliente que já esteve na casa.
- Não pode usar o celular. Deve entrar com o aparelho desligado.
- Perfume não é permitido, pois prejudica o aroma dos pratos.
- Chiclete ou bala deve ser jogados fora, antes de entrar.
- Não pode conversar alto.
- Deverá tirar o casaco ou o terno, dobrar antes de entrar no restaurante, para não trazer o pó para dentro.
- Não existe molheira no balcão. Será servido junto com o prato, se necessário.
- Não pode ler jornal ou revista.- Não pode tirar foto ou filmar- Deve estar no mínimo em esporte fino. Calça jeans é permitido, desde que não esteja desbotado ou furado propositalmente.
Se houver alguma exigência não cumprida, o dono grita na frente dos outros e bota você para fora.O mais engraçado é que no início da reportagem, quando a repórter e o cinegrafista entraram, o dono deu a volta no balcão e os expulsou. Sabia que marcara a matéria, mas não estava de acordo com o combinado. A moça teve de lavar o rosto no banheiro de uma loja de conveniência ao lado para tirar o gloss e o perfume, e o cinegrafista teve de fazer a barba e encapar a câmera.E acredite, o restaurante vive bombando, com fila do lado de fora.

E aí, o Jun Sakamoto é arrogante?
PS: Para não dizer que estou defendendo ou não o Chef Jun Sakamoto, eu não o conheço pessoalmente, e nunca fui jantar ao seu restaurante.

2 comentários:

Fábio Hideki Harano disse...

Olá!

Resolvi ler o primeiro texto do blog, e este veio bem a calhar. Eu vi uma entrevista com Jun Sakamto no Altas Horas e logo lembrei de você. Ia perguntar o que acha dele, mas já foi tudo respondido aqui.

Tchau!

isabel alix disse...

Olá!
Comecei a segui-lo no twitter após ver um RT seu sobre o sakê. Obrigada pelos seus tweets, são muito instrutivos.
Meu comentário sobre o texto: acho interessante que as pessoas se encantam com a cultura japonesa e desejam fruir dela, mas apenas se for do jeito que elas entendem que é o certo. O que o Chef Jun Sakamoto faz, na minha opinião, é, em primeiro lugar, um favor à pessoa que vai comer, para que ela possa ter toda a integralidade da experiência. E, em segundo, é algo que me soa muito tranquilo dentro do pouco que conheço da cultura japonesa: o Chef Sakamoto seguramente faz o melhor de si em cada refeição que serve e levou muitos anos para aprimorar seu talento. Se a pessoa que vai comer no restaurante dele não consegue perceber isso e demonstrar o devido respeito, então é melhor que nem vá e dê oportunidade para outros, que são capazes de apreciar a arte do Chef Sakamoto.
Não, eu ainda não fui chez Sakamoto. Mas gostaria muito.